8 de novembro de 2010

A proposito da visita de Ratzinger ou sobre o activismo e o pensar




“Non podes resolver un problema coa mesma
clase de pensamento que o produciu”. Albert Einstein



Xoán Hermida


A visita de Benedicto XVI ten posto de releve a existencia dunha sociedade plural, laica e moderna allea á mesma, que nin se mobiliza en masa para escoitar ao sucesor de San Pedro e aínda menos o fai na súa contra.

Isto que non deixa de ser descritivo, pode servir para que reflexionemos uns e outros, cristiáns e ateos ( inclúo neste apartado aos agnósticos aínda que non sei moi ben porque ) sobre o papel de cada quen na sociedade contemporánea.

Resulta obvio que hai motivos suficientes para ser críticos coa evolución do cristianismo desde que deixou de ser a mensaxe teolóxica de Xesús de Nazaret para pasar a converterse noutra proposta.

Non me refiro soamente as desviacións do mensaxe orixinario de Cristo senón en termos filosóficos do materialismo dialéctico ( que profeso e que a estas alturas non sei se é convinte confesalo ) do papel que as filosofías idealistas, e en concreto as relixións, teñen desenvolvido para manter o “statu quo” ou para controlar e dominar aos sectores desfavorecidos da poboación, eliminando do seu imaxinario a posibilidade de cambio en vida e emprazándoos a un mundo mellor despois da morte.

Pero seriamos inexactos se situaramos no cristianismo algúns dos seus elementos conceptuais máis reaccionarios. Os primeiros cristiáns non pasaban de ser unha corrente popular e crítica fronte ao poder teolóxico establecido no seu tempo. A evolución posterior da igrexa ten moito que ver co seu “agiornamento” co poder e sobre todo a súa base filosófica na idade media coa reinterpretación que de Platon e Aristóteles fixeron os escolásticos, en particular Agustín de Hipona e Tomas de Aquino. Igualmente hoxe a base filosófica do papado de Benedicto XVI bebe fundamentalmente do pensamento idealista transcendental de Inmanuel Kant, que paradoxicamente era luterano e non católico.

Pero diante deste plantexamento filosófico a esquerda, e máis concretamente a esquerda que se di marxista e polo tanto materialista no sentido filosófico, que esta a propor ?

A esquerda leva medio século sumida nunha fonda crise política e organizativa. Os modelos sociais que propón non convencen a case ninguén e as estruturas organizativas para o cambio volvéronse inútiles para mudar o sistema.

Isto se ten visualizado con toda a súa crueza nesta etapa de crise sistémica na que estamos inmersos. A esquerda ten abandonado de xeito vergoñento as súas propostas económicas, entendidas estas no senso amplo – sociais, ecolóxicas, urbanísticas, ...- e se refuxia en “batallas” marxinalizadas e en guetos minoritarios que é precisamente onde o sistema quere que estea.

Abandonou fai tempo toda perspectiva de cambio porque, a excepción de América Latina, ten renunciado á lideranza dunha maioría social, onde por suposto entran varios sectores sociais e algúns de tradición e fe cristián.

Quero facer aquí un paréntese para recordar o importante papel que na Italia de posguerra tivo o concepto do “agiornamento” para rachar a hexemonía da dereita nun país onde a Democracia Cristián tiña profundas raíces ou en América Latina o papel clave que esta a xogar a teoloxía da liberación e os movementos cristiás de base nos procesos de mudanza.

Pero volvamos ao tema da crise da esquerda.

O que é máis grave é que desde antes da guerra mundial a esquerda non ten reflexionado a fondo sobre os cambios nas nosas sociedades e nas demandas materiais e espirituais das persoas condicionadas cada vez máis por un modelo desenvolvista e utilitarista.

A esquerda ten sido abandonada polos filósofos.

Os últimos grandes filósofos da esquerda, exceptuando a corrente estruturalista durante o movemento do sesentaoitista, teñen sido os filósofos da praxe, o italiano Antonio Gramsci e o hungaro Georg Lukács, ambos preocupados polo carácter humanista do marxismo e pola hexemonía social e o papel da democracia no socialismo.

Non é de estrañar que con este panorama os filósofos de moda nas facultades de filosofía sexan existencialistas como Martin Heidegger ou Hans-Georg Gadamer.

Os filósofos materialistas inexistentes foron sustituidos, e menos mal, por físicos e investigadores científicos como Stephen Hawking.

Perdida a batalla da política económica e da filosofía a tendencia natural é a refuxiarse no cotiá e no activismo “desbordante”.

E si as cousas non foran por aí ?

O activismo necesario require de lectura, reflexión e meditación. Por que en lugar de adicarlle o 80% do tempo ao activismo ( obviamente excluídos deste esquema os esquerdistas de café ou de facebook ) e o 20% á reflexión e o análise, invertemos a tendencia e adicamos o 20% ao activismo e o 80% a pensar. Aínda que so sexa durante o actual período “post-traumatico” que nos tocou viver. Ademais o pensamento crítico tamén é sin dubida un exercicio de activismo.

Vivimos tempos que non parecen propicios para o cambio. Seria eses que na dialéctica chámanse período de acumulación de forzas previo a un futuro novo salto cualitativo ou un período que en física cuántica tería que ver cun estadio anterior a unha “cadea de emerxencia”.

Pensemos que ao mellor ao igual que aos cristiáns o noso marxismo non ten nada que ver cos plantexamentos primixenios nin de Marx nin de Engels.

De non ser así creo que seguiremos por algún tempo máis de vitoria en vitoria ata a derrota final.

5 de novembro de 2010

Vitória ! E agora ?


Brasil de Fato. Editorial 03/11/2010

Não há motivos para duvidar que a mulher que derrotou o tucano José Serra não medirá esforços para dar continuidade à política econômica do atual governo


O que os movimentos sociais podem esperar do governo de Dilma Rousseff, que inicia em janeiro de 2011? Nada além daquilo que foi o próprio mote da sua campanha eleitoral: a continuidade do governo Lula. Não há motivos para duvidar que a mulher que derrotou o tucano José Serra nestas eleições não medirá esforços para dar continuidade à política econômica do atual governo, tentando promover crescimento econômico com distribuição de renda. Até onde isso será possível, sem atingir os interesses das grandes fortunas, que também foram beneficiadas por essa política econômica, e sem promover as reformas estruturais na economia e na política, essenciais para impulsionar a distribuição da riqueza e consolidar uma democracia em nosso país? Ir além das políticas assistenciais, um imperativo neste momento, significará confrontar os interesses dos que monopolizam a renda e a riqueza brasileira.

A presidenta eleita assegurou, durante a campanha, que a reserva petrolífera do pré-sal pertence ao povo brasileiro e a riqueza gerada será utilizada para erradicar a miséria e em investimentos nas áreas sociais da saúde, educação e saneamento básico. Enganam-se os que pensam que as transnacionais do petróleo e o capital internacional irão respeitar os 56 milhões de brasileiras e brasileiros que votaram a favor dessa proposta política. A rapinagem internacional encontrará em setores da elite brasileira, tão bem explicitada em torno da candidatura do tucano derrotado, o apoio necessário para tentar apoderar-se de mais essa riqueza natural brasileira. Não faltarão experts em economia, jornalistas, comentaristas políticos, parlamentares e lideranças partidárias defendendo, sempre com a empáfia do conhecimento das elites, que o país não tem condições nem capacidade para gerenciar o pré-sal. Melhor será, de acordo com o aprendizado de 500 anos dessa elite nacional entreguista, deixar que os grandes grupos econômicos internacionais o explorem. A presidenta Dilma Rousseff, cumprindo sua promessa eleitoral, terá uma oportunidade histórica para derrotar esses setores entreguistas das nossas riquezas e assegurar ao povo brasileiro o pagamento de uma dívida social que perdura há cinco séculos.

Dificilmente a candidatura de José Serra teria o êxito de disputar o segundo turno eleitoral se não fosse o desavergonhado e imoral suporte que recebeu dos grandes grupos de comunicação. Estes tornaram-se o grande partido político de oposição ao governo Lula. Aproveitaram-se do período eleitoral para fazer uma verdadeira luta de classes em defesa de suas bandeiras políticas mais conservadoras e direitistas. Não hesitaram em adotar candidaturas que se dispunham a fazer coro aos ataques ao governo e à sua candidata, em troca de alguns minutos de exposição nos noticiários.

Já não é mais possível pensar no fortalecimento da democracia sem mexer no oligopólio das comunicações em nosso país. É bem-vindo o Plano Nacional de Banda Larga, um serviço público que democratizará a informação através da internet. E, felizmente, alguns Estados já estão discutindo uma legislação própria que assegure um controle social sobre os meios de comunicação, como estabelece a Constituição Federal de 1988. Mas é preciso enfrentar os grupos empresariais do setor, seis ou sete famílias, que monopolizam a produção e a divulgação das informações.

Não se trata de censurar a imprensa. Mas, sim, de assegurar ao povo brasileiro o direito de se informar e se comunicar. Direito que está acima dos interesses particulares dos proprietários dos meios de comunicação. Este poderio, não enfrentado pelo governo Lula, precisa ser confrontado com as vozes vindas da Conferência Nacional de Comunicação e com uma legislação apropriada e atualizada, que atenda os interesses da sociedade brasileira.

As trapalhadas do Poder Judiciário, durante o processo eleitoral, apenas atestam a necessidade de promover mudanças nessa esfera do poder político. O Brasil deve ser um dos únicos países onde o título de eleitor não é documento suficiente para o cidadão votar. Por indefinição do Supremo Tribunal Federal (STF), milhares de eleitores votaram em candidatos que não sabiam se estavam aptos ou não a receber esses votos, por estarem incluídos no projeto de lei “ficha suja”. Votaram e tiveram seus votos anulados por decisão do Judiciário. Ver um dos ministros do STF, Gilmar Mendes, receber um telefonema de José Serra durante a votação da corte, para interferir nessa decisão, foi o ápice dessas trapalhadas. Reformular a estrutura do Judiciário, limitar os mandatos nas cortes judiciais, democratizar o mecanismo de escolha de seus membros, criar e fortalecer instrumentos de controle da sociedade sobre o Judiciário, são algumas bandeiras que fazem parte da agenda política do país neste momento.

São estes alguns dos desafios que o novo governo, liderado por uma mulher – pela primeira vez na nossa história republicana – terá que enfrentar. Os interesses contrários serão fortíssimos. As forças reacionárias e de extrema direita, que hibernavam desde o fi m da ditadura militar, reapareceram com vigor na disputa eleitoral deste ano. Mostraram que não há limites éticos e legais para se fazer ouvir. As baixarias da campanha, onde o tucano Serra foi um desmiolado porta-voz, mostrou a força desse segmento social e do que são capazes.

Enfrentar esses desafios exigirá da presidenta clareza política e muita força de vontade. O respaldo vindo das urnas, infelizmente, será insuficiente para se contrapor aos interesses do capital, à elite entreguista e às forças direitistas. A base parlamentar, na sua maioria, é mais suscetível aos interesses particulares do que ao programa vitorioso nas eleições. Alguns membros do próprio partido da candidata eleita, e próximos a ela, dão a impressão de que estariam mais à vontade nas fileiras tucanas do que defendendo suas propostas governamentais em defesa dos mais pobres.

Assim como foi determinante no segundo turno das eleições, os movimentos sociais, sindicais e estudantis, as pastorais sociais, os comunicadores progressistas que ocuparam um importante espaço na internet precisam ir às ruas durante estes próximos quatro anos. Somente a mobilização popular, preservando sua autonomia frente ao governo, será capaz de assegurar novas conquistas e frear as forças direitistas que afloraram desse processo eleitoral